Corra de pés descalços até seus pés começarem a doer.
Depois sente no meio fio e comece a contar seus calos.
Ouça mil receitas de como curá-los.
E aprenda tudo sobre medicina natural com sua vizinha ou sua avó.
Vai aprender que nem todas as plantas são capim.
E vai se sentir gigante em relação a uma formiga,
Mas vai parecer pequeno ao descobrir a união que há em um formigueiro.
Vai fazer seus quinze anos, e mesmo depois de uma grande festa.
Vai perceber que as pessoas mais importantes caberiam sentadas na primeira fileira.
Pode economizar sorrisos para não parecer plausível,
Mas jamais empunharia uma gargalhada em hipótese alguma.
Teria dias de silêncio, onde tudo que caíra bem era apenas o travesseiro.
Por outro lado almejaria que todos ao seu redor fossem surdos por alguns instantes.
Pra que você pudesse libertar um grito , sem ninguém perceber.
Sentiria vontade de tomar seu primeiro porre sem razão.
Mais tarde arranjaria uma razão para toma-lo.
Apaixonar-se-ia e juraria que era amor eterno.
A dor permaneceria por algum tempo, mas o amor no mesmo tempo iria embora.
Mais tarde poderia voltar, ou não, basta você analisar se o sentimento é o suficiente para os dois.
Descobriria que o dedo minguinho tem uma enorme atração pelo canto do sofá, e no escuro ou quando você baixar a guarda eles dão uma escapadinha e transam em silêncio, enquanto você dupla o sexo com “ ai ai ais “.
Passaria a olhar para os pássaros com inveja, por poderem voar sem compromisso podendo pousar onde quiserem.
Trocaria o filme, pelos noticiários e acabaria entrando de vez na rotina, da rotina, LOGO VOCÊ.
Ou poderia vestir a camisa de um grevista, pintar a cara de tina vermelha e ser preso por tentar reivindicar seus direitos.
Poderia voltar aos anos sessenta e ser deportado, fugir do exílio e viajar o mundo todo, sendo foragido de si mesmo. Tentando se encontrar e se prender em algum lugar. E voltando até aqui, pode descobrir que seu destino era no mesmo lugar que nasceu.
Você apenas foi passear entre algumas das entradas do seu destino.
Ou não !
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